BRASÍLIA –
A contadora Meire Pôza, que trabalhou para Alberto Youssef, afirmou que o
doleiro se reuniu com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para
acertar investimentos do fundo Postalis, dos Correios, em uma empresa de
Youssef. O encontro ocorreu em 12 de março deste ano, cinco dias antes da
prisão do doleiro, conforme a contadora afirmou em depoimento à Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) mista da Petrobras nesta quarta-feira.
O montante envolvido é de R$ 25 milhões, referente à
metade de uma debênture lançada no mercado para arrecadar dinheiro ao
empreendimento de Youssef. Esses R$ 25 milhões seriam aportados pelo Postalis.
Os outros R$ 25 milhões, pelo Funcef, da Caixa Econômica Federal.
— Eu estive com Youssef no café da manhã no dia 14.
Ele afirmou ter vindo a Brasília dois dias antes e ter resolvido com o PT a
aprovação da operação. Ele também disse ter conversado com Renan para acertar a
ponta que era do PMDB e que até o fim do mês a operação com o Postalis iria
sair. Não saiu porque Youssef foi preso — afirmou Meire.
O GLOBO revelou a história em 12 de setembro. Uma
reportagem mostrou que a contadora, em depoimento à Polícia Federal (PF),
afirmou ter havido uma reunião entre Youssef e Renan para tratar de
investimentos de fundos de pensão. Segundo Meire, na reunião foi fechado um
“acordo verbal” para que fundos de pensão investissem em ações de uma das
empresas do doleiro.
No depoimento, Meire afirmou que parlamentares do PT e
do PMDB fizeram as negociações pelos aportes dos fundos Postalis, dos Correios,
e Funcef, da Caixa Econômica Federal (CEF), mediante uma suposta partilha de
comissões com integrantes dos dois partidos. Pelo PT, as negociações teriam
sido conduzidas pelo deputado federal André Vargas (sem partido-PR). A
proximidade e negócios conjuntos do deputado com o doleiro já foram citados nas
investigações da Lava-Jato.
Em nota, a assessoria do Senador Renan Calheiros
afirma que “não conhece a pessoa mencionada no noticiário como ‘doleiro’
Alberto Youssef e que só soube da existência do mesmo após as informações
publicadas pelos jornais’. Ainda segundo nota, Renan “nunca esteve, agendou
conversas e nunca ouviu falar de Alberto Youssef e de sua contadora”.
O valor dos aportes dos fundos de pensão, ainda
segundo o depoimento, seria de R$ 50 milhões. “Corretores” — intermediários que
fariam o dinheiro chegar aos partidos —ficariam com 10%.
A contadora também citou no depoimento à CPI uma
suposta participação da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), no
recebimento de propina por conta do pagamento de precatórios do governo do
estado à Constran. Meire afirmou ter se reunido, juntamente com Youssef, com o
então secretário da Casa Civil do Maranhão, João Guilherme Abreu. O interesse
da Constran era receber R$ 123 milhões em precatórios.
Segundo a contadora, ficou acertado o pagamento de
propina de R$ 6 milhões, por conta de um acerto para parcelamento dos
precatórios em 24 vezes. Uma das remessas foi levada por Adarico Negromonte,
irmão do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte. O valor foi de R$ 300 mil. A
pessoa que recebeu o dinheiro teria reclamado da quantia e consultado a
governadora Roseana se o montante deveria ser recebido.
— Adarico esteve no meu escritório depois da prisão do
Alberto. Ele disse que foi ao Maranhão levar o dinheiro e que a pessoa afirmou
que era pouco. Ela então teria entrado em contato com a governadora para saber
se ela concordaria em receber os R$ 300 mil, e ela teria concordado — disse a
contadora.
VACAREZZA
TAMBÉM É CITADO
Meire afirmou ainda ter sido procurada por um assessor
do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), João Lima, para operar investimentos do
Igeprev, instituto de previdência do governo de Tocantins. Segundo o que o
assessor teria relatado à contadora, “eles precisavam da comissão para pagar
dívida de campanha’.
Naquela ocasião, segundo Meire, não havia qualquer
relação com os negócios de Youssef. Posteriormente é que houve um aporte de R$
13 milhões do Igeprev nas empresas do doleiro. Ela negou ter sido procurada
diretamente pelo deputado.
— Não sei se João Lima pagou dívida de campanha. O que
sei é que esses mesmos personagens fizeram a operação dos R$ 13 milhões do
Igeprev. Como são os mesmos personagens, posso supor que o assessor de
Vaccarezza tenha participado dessa intermediação entre o fundo de Youssef e o
Igeprev — afirmou.
YOUSSEF
TERIA CONTATOS COM EX-MINISTRO
A contadora contou também que o ex-ministro das
Cidades, Mário Negromonte, mantinha contatos com o doleiro, e chegou a
orientá-lo sobre a compra de uma empresa de controle de monitoramento de
veículos em Goiânia. Negromonte, que renunciou ao cargo de deputado federal
para assumir o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM)
da Bahia em junho deste ano, foi ministro da presidente Dilma Rousseff, entre
fevereiro de 2011 e fevereiro de 2012.
O ex-ministro era visto com o doleiro num restaurante
em São Paulo comprado por Youssef, segundo a contadora. De acordo com Meire,
Negromonte indicou a doleiro a compra da empresa de monitoramento, pois haveria
a aprovação do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). O Denatran é
vinculado ao Ministério das Cidades. O irmão do ex-ministro, Adarico
Negromonte, foi citado pela contadora como responsável por transportar o
dinheiro das empresas do doleiro.
Em depoimento, a contadora Meire Poza elencou quatro
empresas como clientes de uma das empresas dele, a GFD Investimentos: Mendes
Júnior, Sanko Sider, Engevix e Paranasa. Ela confirmou que a GFD não exercia
qualquer atividade e que a principal fonte de receita do empreendimento eram
repasses dessas empreiteiras, em troca de notas fiscais frias.
Meire Poza afirmou não ter “informações diretas” sobre
os contratos das empreiteiras com a Petrobras. Ela disse ser possível, no
entanto, que o doleiro tenha presenteado outros servidores da estatal, além do
ex-diretor Paulo Roberto Costa.
Costa ganhou uma Land Rover de presente do doleiro.
Meire também confirmou que Youssef deu um helicóptero ao deputado federal Luiz
Argôlo (SD-BA), no valor de R$ 800 mil. Ainda segundo a contadora, o doleiro
presentou uma amante com apartamentos e restaurantes, de nome Taiana. Quebras
de sigilos telefônicos mostram diversas conversas entre Youssef e Taiana de
Sousa Camargo, que trabalhou no gabinete da deputada federal Aline Corrêa
(PP-SP).
— O Youssef recebia o dinheiro das empreiteiras e
usava para comprar um terreno no Rio de Janeiro, por exemplo — disse Meire no
depoimento, em resposta aos primeiros questionamentos do relator da CPI,
deputado Marco Maia (PT-RS).
Meire já prestou depoimento no Conselho de Ética da
Câmara, que abriu processo para investigar a relação de Youssef com o deputado
federal Luiz Argôlo (SD-BA). Na ocasião, ela confirmou que o parlamentar
recebeu dinheiro do doleiro, disse que Youssef fez pagamentos a outras pessoas
e o definiu como “banco”.
A contadora decidiu colaborar com a Justiça do Paraná,
onde tramitam os processos relacionados à Operação Lava-Jato, que desvendou um
esquema de lavagem de dinheiro envolvendo um montante de R$ 10 bilhões. Ela
confirmou a emissão de notas fiscais frias a empreiteiras, por meio das
empresas de Youssef, com o objetivo de dissimular a prestação de serviços.
Meire falou em “malas de dinheiro” movimentadas pelas empresas.
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