Época
No
final do governo Lula, um jovem e brilhante operador do mercado financeiro
ascendia no rarefeito mundo da elite política de Brasília. Era Fabrizio
Neves, dono da Atlântica Asset, empresa que montara fundos no mercado
financiados sobretudo pelo Postalis, fundo de pensão dos Correios. O Postalis
era comandado por afilhados do ministro de Minas e Energia,Edison Lobão, e do
senador Renan Calheiros, ambos do PMDB. Fabrizio dava festas e promovia
jantares em Brasília e São Paulo. Num deles, contratou o cantor Emílio Santiago
e um dos pianistas que tocavam com Roberto Carlos. Colecionador de armas, dono
de bom papo, Fabrizio fez amizades com políticos, diretores do Postalis e
lobistas – a maioria deles ligada ao PMDB. Segundo seis desses altos quadros do
PMDB, Fabrizio participava também das reuniões em que se discutia o
financiamento das campanhas em 2010. Com pouco tempo de Brasília, Fabrizio já
se tornara um homem poderoso na capital.
Sobre
Fabrizio, sabia-se apenas que ele morara em Miami, onde fizera fortuna no
mercado financeiro. No Brasil, ele estava em alta; nos Estados Unidos, era
caçado por credores e pelos investigadores da Securities and Exchange
Comission, a SEC, órgão que regula o mercado financeiro americano. Acusavam-no
de ser o arquiteto de uma fraude que envolvia o dinheiro arrecadado no
Postalis. A caçada judicial terminou recentemente nos Estados Unidos, e suas
consequências ainda não se fizeram sentir no Brasil. A ascensão de Fabrizio por
lá se deu com dinheiro daqui – dinheiro dos carteiros e funcionários dos
Correios, que financiam suas aposentadorias contribuindo para o Postalis. A
queda de Fabrizio terminou por lá. Mas ainda promete começar por aqui. E isso
aterroriza o PMDB.
A
história de Fabrizio, contada em documentos confidenciais obtidos por ÉPOCA nos
Estados Unidos e no Brasil, ilustra à perfeição o efeito devastador da
influência da política nos fundos de pensão das estatais. É um problema antigo,
que resulta em corrupção e prejuízos aos fundos. Ele atingiu novo patamar no
governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a ascensão de
sindicalistas ligados ao PT à direção de fundos como Previ, do Banco do Brasil,
ou Petros, da Petrobras. O caso do Postalis, maior fundo do Brasil em
número de participantes (110 mil), é especial. Foi o único fundo de grande
porte aparelhado, no governo Lula, pelo PMDB. Por indicação de Lobão, o
engenheiro Alexej Predtechensky, conhecido como Russo, assumiu a presidência do
Postalis em 2006. Com o apoio de Lobão e Renan, o administrador Adílson Costa
assumiu o segundo cargo mais importante do Postalis: a diretoria financeira.
Amigo de Lobão, Russo tinha no currículo a quebra da
construtora Encol, nos anos 1990. Quando diretor da Encol, fora acusado de
irregularidades na gestão. Fora também sócio de Márcio Lobão, filho de Edison
Lobão, numa concessionária que vendia BMWs. No Postalis, sua gestão resultou em
péssimos números. Dono de um patrimônio de R$ 7 bilhões, o Postalis vem
acumulando perdas significativas. Entre 2011 e 2012, o deficit chegou
a R$ 985 milhões. No ano passado, o fundo somou R$ 936 milhões negativos e, em
2014, as contas no vermelho já somam mais de R$ 500 milhões, com uma projeção
para encerrar o ano acima de R$ 1 bilhão.
A
situação do Postalis é tão grave que a Superintendência Nacional de Previdência
Complementar, a Previc, responsável por fiscalizar os fundos de pensão, avalia
uma intervenção no fundo. Os auditores da Previc estão cansados de notificar e
autuar os diretores por irregularidades. Houve, ao menos, 14 autuações nos
últimos anos, a que ÉPOCA teve acesso. Os mandatos de Russo e Adílson se
encerraram em 2012. Foram substituídos por novos apadrinhados de Lobão e Renan.
A presidência ficou com o PT, que indicou Antônio Carlos Conquista – autuado
pela Previc por irregularidades na gestão de outro
fundo. PT e PMDB disputam agora as decisões pelos
investimentos do Postalis. A ordem política, dizem parlamentares, lobistas e
funcionários do Postalis, é diminuir os maus investimentos. Trocá-los por
aplicações conservadoras, de maneira a evitar a intervenção.
Informações e vídeos ao Blog Bacabeira em Foco podem
ser enviados por email:bacabeiraemfoco@hotmail.com ou pelo WhatSapp (98)
9965-0206
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