Depois
de sofrer uma
derrota na
noite desta terça-feira, com a criação de uma comissão para investigar
denúncias de pagamento de propina para a Petrobras, o governo Dilma Rousseff
deu novos sinais de que perdeu o controle de sua base na Câmara dos
Deputados. Nesta quarta, com os votos do chamado
"blocão", a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle
aprovou uma série de requerimentos chamando ministros e a presidente
da Petrobras, Graça Foster, para prestar esclarecimentos sobre
denúncias em suas áreas. Outras comissões também convidaram integrantes do
primeiro escalão do governo para ir ao Congresso, em mais
uma articulação que pressiona e constrange o Palácio
do Planalto.
O primeiro revés do dia ocorreu após votação de um pedido do PSDB convidando Graça Foster para explicar contratos da Petrobras firmados com a empresa SBM Offshore. A Câmara montou uma ofensiva para investigar o caso: um grupo de congressistas vai à Holanda apurar a denúncia, revelada em reportagem de VEJA, de que funcionários e intermediários da Petrobras receberam pelo menos 30 milhões de dólares, de 2007 a 2011, para favorecer contratos com a empresa holandesa SBM Offshore – maior fabricante de plataformas marítimas de exploração de petróleo do mundo. O esquema, relatado por um ex-funcionário do escritório da SBM em Mônaco, movimentou mais de 250 milhões de dólares e envolveu outros países, como Itália, Malásia e Iraque. Os documentos sobre o caso foram enviados ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos e ao Ministério Público da Holanda.
Em
seguida, a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara também aprovou
requerimento do DEM chamando o novo ministro da Saúde, Arthur
Chioro, para prestar esclarecimentos sobre o programa Mais Médicos. E não parou
aí: na sequência, votou as convocações dos ministros Gilberto Carvalho
(Secretaria-Geral da Presidência), Manoel Dias (Trabalho), Jorge Hage
(Controladoria Geral da União) e Aguinaldo Ribeiro (Cidades). Outras comissões
também convidaram ministros para ir ao Congresso: Moreira Franco (Aviação Civil),
Aldo Rebelo (Esporte), Paulo Bernardo (Comunicações), Francisco Teixeira
(Integração Nacional) e Marco Antonio Raupp (Ciência e Tecnologia). O
ministro Edison Lobão (Minas e Energia) também seria convidado, mas o
PMDB, seu partido, conseguiu inviabilizar a votação.
Os requerimentos aprovados, no entanto, são distintos. Quatro ministros – Carvalho, Dias, Hage e Ribeiro – foram "convocados", o que torna a presença obrigatória. Os demais casos são "convites", ou seja, o comparecimento é facultativo.
No caso de Foster, como ela comanda uma estatal, os parlamentares não podem obrigá-la a comparecer. Algoz do Palácio do Palácio do Planalto nas últimas votações, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), propôs um acordo: “Se a presidente da Petrobras não comparecer no prazo constitucional [de 30 dias] que é dado para a vinda de ministros, nós convocaremos o ministro Edson Lobão [Minas e Energia]”.
Já Chioro irà à Câmara na próxima quarta-feira.
O deputado Mendonça Filho (DEM-PE) pediu sua convocação, mas um acordo com
o PT acabou transformando a ida do ministro em convite – cuja data poderia ser
negociada. O ministro será ouvido sobre o regime de contratação dos
médicos cubanos pelo governo brasileiro. Autor do requerimento, Mendonça
Filho disse que o objetivo é ouvir o ministro sobre a possível prática de
trabalho escravo envolvendo os médicos cubanos que atuam no Brasil. “Países que
mantiveram parceria similar com o programa, além de não terem firmado contratos
coletivos, não havia diferença entre o valor dos salários pagos aos médicos
participantes, diferentemente do que está ocorrendo no Brasil”, afirmou.
Segundo a Agência Câmara, as convocações de Carvalho, Dias e Hage foram requeridas pelos deputados Fernando Francischini (SDD-PR) e Carlos Brandão (PSDB-MA). Eles vão prestar informações sobre denúncias de envolvimento em irregularidades de ONGs que mantêm relação com os ministérios.
Ribeiro deverá ser ouvido
sobre o andamento das obras de mobilidade urbana, a resolução do CONTRAN que
obriga autoescolas a utilizarem simuladores de direção, além da sistemática
utilizada pela pasta para os empenhos de emendas parlamentares.
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