Um ano depois, se possível fosse, poderíamos
visitar as almas dos que mataram e dos que encomendaram a morte de Décio Sá.
Talvez pudesse ver o que sentem eliminando pessoas, o que há por dentro deles,
o que encontram vivendo a qualquer preço para o dinheiro e o poder. Um ano
depois, outros crimes de encomenda sujam as páginas da História do Maranhão.
Décio... Ele não desce mais as escadarias da Assembleia Legislativa, não liga
mais nas madrugadas para confirmar as notícias, mas seu corpo enterrado é um
símbolo da violência subsidiada no Brasil.
No país onde mais matam jornalistas, Décio
morreu sem chances de pedir Paz ao mundo. Um terrível esquema envolvendo
dinheiro sujo, um pecado inominável das autoridades com as finanças públicas,
afinal por ele denunciado e não demorou muito para que se tornasse vítima
indefesa de um homem que vivia de matar. Ele se foi, a agiotagem permanece como
troféu de uma bandalheira cruel que as instituições e o poder público se negam
a punir.
Nunca saberemos o que tem dentro dessa gente
que paga para matar. Talvez sejam feitos de fios de cobre; talvez durmam com o
inferno dentro da cabeça. Nem temos certeza se todos os assassinos foram
punidos e provavelmente existem aqueles que acham que nem merecem punição.
Mas o cadáver de Décio é o nosso cadáver. O
cadáver da informação, o cadáver da democracia, dos direitos de dizer e de
saber.
Um ano depois e ainda existem listas da
pistolagem, gente marcada para morrer, gente que morre fulminada pelas máfias
que agem nos esgotos do poder público. Prefeituras sangrentas, conquistadas e
coordenadas pelo dinheiro de bandidos, verdadeiros consórcios da miséria e da
desgraça de um povo, deixaram no chão da praia o sangue de Décio Sá. Ele não
merecia isso, o Maranhão não merece e, ainda povo, ainda jornalistas, só nos
resta, diante dos pistoleiros que rondam essa terra, dizer como os gladiadores
diziam diante do Imperador: “Os que vão morrer vos saúdam”!
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