Por Cristiane Agostine e Carlos Motta – Valor Econômico
A oposição à família Sarney no Maranhão antecipou a eleição
estadual de 2014 e lançará hoje a pré-candidatura do presidente da EMBRATUR,
Flávio Dino (PCdoB). O movimento, articulado pelo PCdoB, PSB e PDT, com apoio
de dissidentes petistas, tenta acabar com a hegemonia dos Sarney no Estado, que
dura mais de quatro décadas.
O lançamento de Dino para a sucessão da
governadora Roseana Sarney (PMDB) será feito em Imperatriz, segunda maior
cidade do Estado. O presidente da Embratur pretende ficar no cargo até o próximo
ano, quando terá que se desincompatibilizar para concorrer.
Segundo o pré-candidato, a campanha foi antecipada para tentar
reverter a desvantagem em relação à família Sarney, que controla a máquina
estadual. “Com essa assimetria, tivemos que entrar antes na disputa e acelerar
o debate”, afirmou Dino ao Valor Pro, serviço em tempo real do Valor.
No documento que será apresentado hoje,
apoiadores de Dino defendem a superação do “modelo oligárquico e coronelista”
que gera “abandono e injustiça social”.
Há outro grupo, ligado ao PPS e a aliados
da ex-senadora Marina Silva, que também se articula contra a oligarquia
estadual. Chamado de Via Alternativa Popular (VAP), os críticos ao governo
Roseana decidem no próximo ano se terão candidatura própria ou se irão se unir
a Dino.
O desafio da oposição no Estado não é
pequeno. A oligarquia dos Sarney só foi derrotada em 2006, quando a candidatura
de Jackson Lago (PDT) conseguiu unir a oposição no segundo turno e venceu a
eleição estadual. Lago, no entanto, foi cassado pela Justiça Eleitoral em 2009
por abuso político e econômico, depois de a candidatura de Roseana apresentar
recurso. Roseana assumiu e reelegeu-se em primeiro turno para seu quarto
mandato como governadora em 2010: teve 50,08% dos votos válidos, em uma disputa
contra Dino e Lago, morto em 2011.
Para o deputado federal Domingos Dutra
(PT), um dos principais críticos à família Sarney, as dificuldades para
derrotar o grupo começam dentro da própria oposição. “Ter mais de uma
candidatura de oposição não é algo negativo. Até ajuda a ter segundo turno. Mas
hoje há um vazio consistente da oposição, enquanto o grupo político de Sarney
continua muito forte, porque está colado no governo federal”, disse.
“Precisamos nos unir e fazer uma oposição forte ao governo estadual”.
Em 2014, a família Sarney deve lançar o
secretário de Infraestrutura do governo de Roseana, Luís Fernando Silva. A
governadora tem reforçado a pré-candidatura de Silva e suas vitrines de
campanha. Além dos recursos orçamentários, o secretário terá R$ 3,8 bilhões
para investir em obras viárias, de um empréstimo obtido no BNDES.
O presidente do diretório estadual do PMDB,
Remi Ribeiro, afirmou que historicamente vence no Maranhão quem está no poder.
“Sempre quem está governando tem poder de fogo”, disse.
O PT deve manter-se alinhado com os Sarney
em aliança costurada entre o senador José Sarney (PMDB-AP), o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff. Em 2010, o diretório
estadual do PT optou por Dino, mas o diretório nacional interveio e determinou
o apoio a Roseana.
Desde 2012, Dino tenta atrair o PT e
negociou a participação da sigla na Prefeitura de São Luís, comandada por seu
aliado, Edivaldo Holanda Junior (PTC). No entanto, além da pressão do comando
nacional do PT, petistas participam da gestão Roseana, com o vice-governador e
dois secretários.
Em 2014, Lula e Dilma devem priorizar o
palanque do PMDB, mesmo que haja outras candidaturas de partidos aliados, a
exemplo da eleição estadual passada. No Estado, a aliança com o PT é importante
não só para ter o maior tempo de televisão, mas também para poder exibir a
imagem do ex-presidente e da presidente, muito fortes no Estado.
Diante desse cenário, a candidatura de Dino
poderá servir de palanque para as possíveis candidaturas do presidente nacional
do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e da ex-senadora Marina
Silva. Dutra é um dos articuladores do Rede Sustentabilidade e deverá migrar
para a legenda, se ela for viabilizada.
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