Denunciado pela
Procuradoria-Geral da República por três crimes, Renan Calheiros (PMDB-AL) é o
novo presidente do Senado. Foi eleito na manhã desta sexta-feira (1º) em
votação secreta por seus pares, com 56 votos.
O outro candidato foi o senador Pedro Taques (PDT-MT), que recebeu
18 votos. Dois senadores votaram em branco e outros dois, nulo.
Taques havia recebido apoio público de bancadas de oposição como a
do PSDB e a do DEM, e da governista do PSB. Mas as promessas de manutenção de
cargos na Mesa Diretora falaram mais alto.
Os crimes que o Ministério Público Federal atribui a Renan levaram
ele a renunciar à presidência do Senado, cargo que ocupava desde 2005, em 2007.
Senadores de oposição criticaram
a manutenção da candidatura de Renan, mas já consideravam sua eleição uma
inevitabilidade.
Como disse Álvaro Dias (PSDB-PR), não havia fatos novos para o
"público interno" --governo e Senado.
Em entrevista ontem à Folha,
Renan disse estar confortável em assumir a presidência do Senado mesmo sob
suspeita, por considerar que a ação da procuradoria era motivada politicamente.
A denúncia do procurador-geral, Roberto Gurgel, ocorreu na semana
passada, e hoje cedo a revista "Época" divulgou o teor da acusação:
falsidade ideológica, uso de documentos falsos e peculato.
O senador é acusado de pagar despesas pessoais com dinheiro de
Cláudio Gontijo, que trabalha para a empreiteira Mendes Júnior.
Para justificar que tinha renda para fazer os pagamentos, Renan
apresentou documentos e afirmou que tinha ganhos com a venda de gado. O senador
pagava uma pensão mensal à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha
fora do casamento.
A denúncia também aponta o peculato decorrente do desvio da verba
indenizatória do Senado. Renan, diz a procuradoria, desviou recursos da Casa para
uma locadora de carros que pertence a um laranja do senador.
SILÊNCIO
Em seu discurso antes da votação, Taques disse que a eleição de
Renan acontece em meio ao "silêncio dos covardes". A declaração foi
dada ao final de sua fala, quando houve um momento de breve silêncio.
"Eu peço o voto de cada senador. Peço silêncio aos senhores.
Ouçam esse silêncio.
Esse silêncio é o silêncio do covarde. É o silêncio de
quem tem medo. Sintam esse silêncio. Esse é o silêncio de quem aceita, de quem
não resiste. Expresso a vossa excelência, senador Renan Calheiros, meus
respeitos pessoais", afirmou o senador.
Já Renan, em seu discurso como candidato, deu um recado aos
chamados "independentes" ao dizer que a ética é uma "obrigação
de todos nós".
"A ética não é objetivo em si mesmo. O objetivo em si mesmo é
o Brasil, o interesse nacional. A ética é meio, não é fim. É obrigação de todos
nós, responsabilidade de todos nós e dever desse Senado Federal", afirmou.
Em sua fala, Renan evitou comentar a denúncia da procuradoria.
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